A importância da multidisciplinaridade

A importância da multidisciplinaridade

A importância da multidisciplinaridade

Autoras: Sara Carvalho (Terapeuta da Fala) e Mónica Guimarães (Terapeuta Ocupacional)

Já dizia o provérbio africano: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Este provérbio é ainda mais verdadeiro quando nos referimos à intervenção com crianças que apresentam necessidades especiais, sendo o trabalho em equipa (onde se inclui família, terapeutas, professores, médicos, entre outros) fundamental para o seu sucesso. A multidisciplinaridade foi durante muito tempo uma grande batalha. Hoje, é reconhecida a importância da articulação entre os diferentes intervenientes da vida da criança como um fator positivo para potencializar o seu desenvolvimento biopsicossocial.

A multidisciplinaridade pressupõe que todos os intervenientes, com a sua formação e função específica, cooperem e trabalhem em prol do desenvolvimento da criança.  A articulação entre todos permite que haja uma continuidade do trabalho nos diferentes contextos onde a criança se insere, contextos esses ricos em oportunidades de aprendizagem. Este modelo de intervenção possibilita ainda dotar cada elemento da equipa de estratégias com as quais podem construir uma resposta mais completa para cada caso.

Trocando isto por “miúdos”, vamos mostrar como uma criança com dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita, uma das nossas áreas de intervenção na Saluslive – Centro Terapêutico, pode beneficiar da multidisciplinaridade. É certo que para conseguirmos uma intervenção com melhores resultados, torna-se necessário ir ao encontro das reais necessidades da criança. Assim, é preciso perceber as competências e défices nas diferentes áreas do desenvolvimento que interferem direta ou indiretamente na aprendizagem da leitura e da escrita. O Terapeuta da Fala pode identificar, por exemplo, dificuldades nas áreas da linguagem (semântica, morfossintaxe e fonologia) e perceção auditiva, o Terapeuta Ocupacional avalia a existência ou não, de alterações na perceção visual, esquema corporal, lateralidade, de estruturação espácio-temporal e grafomotricidade, o Psicólogo tem um papel fundamental na avaliação global do desenvolvimento, na avaliação cognitiva, emocional e comportamental da criança. É essencial a articulação entre os professores e a restante equipa que apoia a criança e assim perceber todo o contexto educativo da criança, e as adaptações e estratégias que estão a ser utilizadas. 

Através da articulação entre a família e todos os profissionais que trabalham com a criança, é possível definir um plano de intervenção que responda às reais necessidades da criança. Uma das vantagens inequívoca desta articulação é o facto dos profissionais poderem integrar na sua intervenção estratégias fornecidas pelos outros elementos da equipa para que a criança otimize as suas competências. Vejamos um exemplo, os professores e terapeutas que trabalhem escrita com o “João” podem ter que utilizar mobiliário e material de escrita adaptado às suas competências motoras e perceção visual (p.e.: plano inclinado, adaptador de lápis,…), conforme avaliado pelo terapeuta ocupacional.

O papel da família é fundamental em todo o processo de intervenção, não só para dar continuidade ao trabalho dos técnicos e professores, mas sobretudo para dar suporte emocional, contribuindo assim para o desenvolvimento da confiança, do autoconceito, autoestima e motivação intrínseca da criança. Assim, a família pode, através da apresentação de atividades/estímulos em contextos naturais e positivos, reforçar as competências que estão a ser trabalhadas nos restantes contextos, como por exemplo, a leitura de histórias com temas que motivem a criança, a participação desta em tarefas domésticas que impliquem a escrita tais como, lista de tarefas e lista de compras.

A concretização do trabalho multidisciplinar nem sempre é uma tarefa fácil para os profissionais, uma vez que surgem barreiras de tempo, espaço, organizacionais e até conceptuais. Contudo, acreditamos que é sem dúvida o caminho para otimizar a intervenção, dado que uma só problemática tem causas e implicações multifatoriais, beneficiando da cooperação próxima entre a família e as várias áreas técnicas, médicas e educacionais, tendo como única finalidade o sucesso do desenvolvimento da criança!

Mónica Guimarães
Terapeuta Ocupacional
Sara Carvalho
Terapeuta da Fala