A Importância da Respiração Nasal

A Importância da Respiração Nasal

Autora: Liliana Marinho (Terapeuta da Fala)

O seu filho dorme de boca aberta? Ressona e tem olheiras salientes? Baba-se muito ou tem constantemente a língua de fora? Ao longo deste artigo irei sensibilizar para alguns sinais de alerta, possíveis causas e consequências da respiração oral, intervindo assim precocemente no encaminhamento, avaliação e tratamento destas características!

Como terapeuta da fala ao longo da minha prática profissional, muitas são as queixas dos familiares e cuidadores sobre a respiração das suas crianças (dorme de boca aberta, ressona, baba-se, tem sempre a língua de fora, entre outras…). No entanto, na maioria das vezes, desconhecem o verdadeiro impacto, negativo, que a respiração oral tem sobre o desenvolvimento da criança. Assim, ao longo de cada dia, a consciencialização dos familiares e cuidadores sobre a importância da respiração nasal, encontra-se sempre presente.

Quando nascemos respiramos naturalmente pelo nariz, que funciona como um filtro de ar que, para além de barrar a entrada de corpos estranhos, aquece e humidifica o ar inspirado. A respiração nasal influencia diretamente o desenvolvimento e o posicionamento dos maxilares assim como o posicionamento da língua (Rombert, 2013). Desta forma, a respiração deveria ser maioritariamente nasal, quer seja diurna ou noturna, uma vez que só assim são conseguidas as condições plenas para um bom desenvolvimento da face e arcadas dentárias da criança. A respiração nasal permite ainda potencializar os sentidos do olfato e paladar, fundamentais para desenvolver o interesse por alimentos e a própria mastigação. Além disso potencializa o sentido da audição criando condições para uma audição plena, conseguindo reunir as condições necessárias para uma boa discriminação e articulação dos sons e palavras.

Durante a respiração oral, todas as impurezas (vírus, bactérias…), penetram mais facilmente no organismo, aumentando a probabilidade de desenvolver infeções nas vias aéreas superiores (nariz, ouvido e garganta) e também o aparecimento de problemas dentários (p.e.: cáries).

No entanto, existem crianças que por diversos fatores, apresentam alguns problemas respiratórios, estruturais e/ou musculares que desencadeiam a respiração oral. Na infância, as causas intrínsecas mais comuns deste tipo de respiração são: rinites, alergias, bronquites, desvios de septo e hipertrofia das adenoides e/ou amígdalas. Existem também causas extrínsecas que poderão condicionar a respiração nasal da criança que, na sua maioria se encontram ligadas a hábitos orais nocivos, como por exemplo o uso excessivo de chupeta e biberão.

Reconhecer uma criança com dificuldade na respiração nasal é simples. Geralmente apresentam um ou mais dos seguintes comportamentos: durante a noite ressonam, ficam de boca aberta e podem até molhar a almofada com a sua saliva, o que faz com que a qualidade do seu sono não seja a melhor e, seja frequente terem olheiras bastante salientes. Ao mesmo tempo, podem apresentar: narinas estreitas; lábios, língua e bochechas com pouca força e mobilidade; exposição excessiva da gengiva; alteração na formação óssea da boca (p.e.: palato alto e estreito) e mudança no formato da face. Em alguns casos, a respiração da criança também poderá ser ruidosa e com sensação de nariz entupido. A mastigação, na maioria das vezes, é realizada com a boca aberta, e com predominância de um padrão de mastigação unilateral (de um só lado) (Rombert, 2013). Ao mesmo tempo, poderá ter dificuldades na coordenação entre a mastigação e a respiração, o que faz com que coma muito devagar ou engula os alimentos muito rapidamente, sem os mastigar de forma adequada, apresentando uma mastigação muitas vezes atípica ou adaptada, que causa repetição de padrões inadequados e tensões exageradas em outros grupos musculares que não os mastigatórios. A coordenação entre a respiração e a fala também poderá estar prejudicada com a respiração oral, o que faz com que a criança demonstre cansaço durante a fala e possa apresentar um discurso menos fluente.

Com a respiração oral também existe uma menor oxigenação cerebral, levando a que a criança não descanse o suficiente durante o sono, podendo ficar mais sonolenta, com maior irritabilidade e mais agitada durante o dia. Desta forma, este padrão respiratório pode interferir com a sua capacidade de atenção e concentração, afetando consequentemente a aprendizagem e o desempenho escolar.

Muitas vezes a dificuldade em respirar pelo nariz prejudica também o funcionamento do canal auditivo, causando alterações na audição uma vez que o ouvido deixa de ser tão “arejado” quanto deveria, podendo ocorrer acumulação excessiva de cerúmen, de humidade e infeção por bactérias ou fungos, na região da Trompa de Eustáquio (canal que liga o ouvido médio à nasofaringe). Essas situações influenciam diretamente a acuidade auditiva, o que propicia a ocorrência de otites de repetição, que por sua vez também prejudica a forma como a criança ouve e discrimina os sons. De salientar que as perdas auditivas na infância, ainda que ligeiras, podem ter um impacto significativo no desenvolvimento do processamento auditivo, no desenvolvimento da linguagem e da fala, o que pode refletir-se em atrasos nas aquisições linguísticas, alterações na articulação e discriminação dos sons da fala e dificuldades de escrita.

Em conclusão deixo a premissa de que a respiração oral não é um ato natural e muito menos saudável, portanto não deve ser menosprezado. Quanto mais cedo for detetada a respiração oral numa criança, mais cedo poderemos intervir e evitar todas as consequências deste padrão respiratório! Quaisquer que sejam os sinais identificados na criança, deverão ser avaliados de forma individual com o fim de obter o melhor tratamento, sendo que o terapeuta da fala tem um papel fundamental neste processo.

 

 Liliana Marinho       Terapeuta da Fala