Autora: Joana Peixoto (Cinoterapeuta)
O cão é o melhor amigo do Homem, é uma expressão mundialmente conhecida, mas será apenas mais um clichê? A comunidade científica tem apresentado diversas investigações que comprovam a veracidade desta expressão, corroborando o que muitos já haviam experienciado na relação com os seus animais de estimação.
A Cinoterapia ou Terapia Assistida por Animais (TAA) caracteriza-se por uma intervenção terapêutica que integra o animal como elemento no processo de tratamento, visando promover um funcionamento físico, social, emocional e cognitivo. No âmbito da terapia, o animal pode desempenhar várias funções, tais como, agente motivador, reforçador de comportamentos, potenciador da aprendizagem, facilitador social, fonte de emoções positivas, promotor da autoestima e autoconfiança, entre outras.
O desenvolvimento da TAA é dirigido por um profissional da área da saúde, o qual define objetivos e metodologias terapêuticas, de acordo com as necessidades dos pacientes. A TAA opera como complemento a diversas terapias, como por exemplo, a psicologia, a terapia da fala, terapia ocupacional, fisioterapia. Na TAA, o cão assume o papel de coterapeuta, caracterizando-se pela sua versatilidade, uma vez que pode realizar as intervenções em diversos espaços, como por exemplo, clínicas, escolas, lares, etc. O cão pode ser ter um papel ativo ou passivo no decorrer da intervenção.
- Ativo: interage de forma direta com o paciente, participando das atividades terapêuticas (Ex. estímulos sensoriais, atividades motoras, jogos).
- Passivo: não interage diretamente, apenas está presente no local, contribuindo para deixar o ambiente mais leve e prazeroso.
A presença do cão faz com que o ambiente terapêutico pareça menos ameaçador e consequentemente o paciente fica mais recetivo a colaborar nas atividades, o animal produz um efeito tranquilizador, reduzindo os níveis de ansiedade. Paralelamente, o cão atua como uma ponte comunicacional na relação terapeuta-paciente, desenvolvendo assim, o vínculo e confiança imprescindíveis em qualquer relação terapêutica.
No que respeita à implementação da Cinoterapia, a literatura aponta um conjunto abrangente de domínios, nos quais se evidenciam diversos benefícios, tais como:
- A cumplicidade com um animal é alcançada de forma rápida e natural.
- As crianças e adolescentes apresentam menor resistência às atividades na presença do animal.
- As crianças demonstram mais facilmente os seus sentimentos e emoções na presença do cão.
- Os animais potenciam a diminuição de impulsos nervosos.
- A atenção e concentração aumentam na presença do animal.
- O contato físico com o animal conduz a uma proximidade da realidade.
- Melhoria da motricidade global e coordenação motora.
- A criança ou adolescente aprende a importância de respeitar regras e limites.
- O animal promove um sentimento de auto valorização e melhora a autoestima.
- Os animais estimulam a exposição de sentimentos reprimidos.
- O cão favorece condutas de adaptação, promovendo comportamentos mais moderados.
- Estimula a autonomia e a confiança.
- A presença do animal proporciona um ambiente mais relaxado e natural no decorrer das sessões
Para além das vantagens supracitadas, vários estudos evidenciam importância do cão na promoção do desenvolvimento emocional, cognitivo e social das crianças. Investigações mais recentes sugerem que as crianças que crescem acompanhadas por um animal de estimação apresentam níveis de autoestima mais elevados e melhores competências sociais, face a crianças que não têm qualquer contacto com animais.
Os cães assumem um papel importante na socialização, na medida em que representam um desbloqueador e facilitador das relações interpessoais. A nível hormonal, a relação de apego e interação com um animal de estimação conduz ao aumento dos níveis de oxitocina (hormona da felicidade) e redução dos níveis de cortisol (hormona do stress), enfraquecendo assim as respostas fisiológicas ao stress e ansiedade. O apoio emocional e o desenvolvimento da capacidade de resiliência, que ocorre nas interações entre a criança e o cão, constituem-se como atenuantes no aparecimento de problemas emocionais e/ou comportamentais na fase da adolescência e idade adulta. As crianças tornam-se mais tolerantes à frustração, mais empáticas e desenvolvem uma visão mais autêntica do mundo.
No que concerne às questões comportamentais as crianças que têm um cão tendem a desenvolver um maior sentido de responsabilidade e autoconfiança, devido a um conjunto de tarefas relacionadas com o cuidado do animal (ex. alimentação, cuidados de higiene, etc).
Os cães assumem também um papel importante no desenvolvimento cognitivo, constituindo-se como facilitadores no processo de aquisição da linguagem e melhoria das competências verbais. Isto ocorre devido ao estímulo motivador que o animal representa e a sua capacidade de recetor paciente e encorajador. Vários estudos demonstram que a presença do animal induz efeitos positivos imediatos nos processos cognitivos como a memória, a categorização e a atenção. Verificando-se também resultados positivos ao nível da alfabetização e da leitura.
Face ao conteúdo exposto, podemos concluir que a Cinoterapia, configura-se como uma terapia com diversas vantagens ao nível do desenvolvimento infantil, constituindo-se como um complemento terapêutico de várias áreas clínicas e educacionais.
Referências Bibliográficas:
- DOTTI, J. Terapia & Animais. São Paulo: Noética, 2005.
- FINE, Aubrey H. Manual de Terapia Asistida por Animales: Fundamentos teóricos y modelos prácticos. Tradução de Maria Dolors Torner y Raimon Fort. Barcelona: Editora Viena Serveis Editorals, 2003.
- MAGALHAES, M. F. de S.. O recurso a animais nas inter- venções em crianças com Perturbações do Espetro do Autismo. Porto: Universidade do Porto, 2014.
- VIVALDINI, H.. Terapia Assistida por Animais: uma abor- dagem lúdica em reabilitação clínica de pessoas com deficiên- cia intelectual. São Paulo: Faculdade de Saúde, 2011.
- VYGOTSKY, L. S.. Pensamento e linguagem. 4. ed. brasileira. São Paulo: Martins Editora, 2008.
