Autora: Andreia Leal (Musicoterapeuta e Técnica de Intervenção Precoce)
Vivemos atualmente num modelo de sistema educativo que pouco ou nada mudou nos últimos anos. Apesar de todas as alterações propostas por decretos de lei e diretivas para as escolas, a mudança continua a acontecer de forma lenta e muitas vezes mascarada por poucos recursos locais e desconhecimento dos envolvidos.
É comum vermos turmas compostas por 20 a 25 crianças serem acompanhadas por 1 educador e 1 auxiliar de ação educativa, aos quais é pedido que elaborem e ponham em prática planos educativos, atividades de componente letiva individual e de grupo, atendendo às especificidades de cada criança como indivíduo com características, interesses e competências de aprendizagem únicas.
Quando nos deparamos com uma turma na qual está integrada uma criança que em relatório técnico-pedagógico (RTP) tem identificada a necessidade de integração em grupo reduzido como medida de acesso à aprendizagem e à inclusão, a turma é constituída no máximo por 20 crianças mas mesmo assim, percebemos que, muitas vezes, existe dificuldade em corresponder ao desenvolvimento da turma a par do desenvolvimento da criança. Assim, confrontamo-nos com problemas que não se encontram resolvidos:
– A inexistência de apoio diferenciado para que possa haver um trabalho de adaptação do currículo e do método de ensino;
– O rácio adultos/crianças não permite que seja assegurada atenção suficiente às questões individuais de cada criança, sem descurar o grupo;
– A comunidade escolar está, commumente, pouco informada acerca das necessidades específicas e poucos possuem formação sobre como proceder, como lidar e abordar estas crianças;
– Não é facilitada a participação em passeios, dinâmicas ou atividades extra curriculares (AEC’s).
Muito se fala da importância da aprendizagem nos contextos, pois é através da exploração nos contextos naturais da criança que esta aprende e desenvolve. A escola é um contexto essencial no seu percurso, onde explora, brinca, interage, aprende, faz amigos, há regras e liberdade. Por conseguinte, a criança precisa de vivenciar a escola no seu todo, participar, envolver-se e fazer parte. Para as crianças com necessidades específicas, muitas vezes, torna-se difícil saber como explorar, interagir e muitas vezes acabam por simplesmente não participar ativamente e ouvimos os pares e os adultos dizerem “mais vale deixá-lo ali a brincar sozinho”, “não vai entender a regra do jogo”, “ele vai atrasar os coleguinhas”, “ele não consegue”. Isto acontece porque não há na escola resposta suficiente e especializada, como assistentes operacionais, educadores ou técnicos, que se possam dedicar a uma criança.
No momento da matrícula dos alunos, a escola deve garantir toda a preparação dos educadores e restante comunidade escolar, para que as crianças sejam incluídas e participem neste contexto conforme as diretrizes que defendem a inclusão.
É imperativo que o educador tenha condições para trabalhar com a inclusão, não sendo apenas necessário ter formação, mas também ter recursos para conseguir incluir o aluno. Muitas vezes o cenário com que nos deparamos é pouco respeitador da inclusão. Esta criança, enquanto os restantes colegas de turma trabalham com a educadora, fica a brincar sozinha e depois acaba por fazer algumas atividades adaptadas para si, num horário no qual a educadora está disponível porque os meninos estão a brincar com supervisão da auxiliar, ficando assim privada da exploração da brincadeira em grupo. Aqui surge o “mas ele não brinca com os outros meninos”. Pois não, mas precisa e tem direito a esse contacto para aprender a fazê-lo. Não podemos continuar a privar as crianças com necessidades específicas de vivenciar a escola exatamente como ela é. É importante que participe de forma ativa, adaptada se necessário, em equidade, ou seja, tendo acesso ao que necessita para que tenha as mesmas oportunidades que todos os outros.
Na comunidade educativa vemos vontade de fazer melhor, vontade de proporcionar uma aprendizagem diferente, encontramos a vontade de incluir e de entender mas poucos meios para o concretizar.
Como forma de colmatar as dificuldades referidas, por vezes as famílias recorrem a apoio externo, para assim proporcionarem um desenvolvimento harmonioso da criança nos contexto naturais onde se insere.
O que é o Apoio em Contexto Educativo e como funciona?
Este apoio caracteriza-se pela presença de um técnico especializado, em educação especial, seja em intervenção precoce ou necessidades especiais no domínio cognitivo e motor, no contexto escolar. O objetivo é que, acima de tudo, seja garantida e cumprida a planificação da sala de aula e que a criança seja parte integrante da turma, participe ativamente da melhor forma possível, com as adaptações necessárias, na rotina e nas atividades individuais e em grupo, como e com todos os meninos. É crucial ter presente as necessidades da criança e as preocupações da família e a necessidade de dar apoio nas estratégias para a integração e participação escolar, cumprindo o que consta no Decreto-Lei nº54/2018 referente à Educação Inclusiva.
Que benefícios pode ter este acompanhamento?
– Aumentar a participação e consequentemente maior aprendizagem;
– Melhorar o desempenho;
– Aumentar a confiança em participar sem receios ou entraves;
– Modificar o comportamento através de uma melhor entendimento das regras e estruturas;
– Potenciar um maior e melhor auxílio nas necessidades específicas;
– Sensibilizar da comunidade escolar para as necessidades específicas;
– Promover a organização e orientação do ambiente para que esteja adequado às necessidades específicas;
– Melhorar o feedback entre os contextos em que a criança se insere (casa-escola-terapias).
A participação escolar (a aprendizagem, o brincar, a interação social, etc.) é essencial para o desenvolvimento da criança, no entanto existem muitos entraves que surgem no caminho para a verdadeira inclusão. O apoio em contexto educativo ajuda a colmatar estas dificuldades institucionais e individuais, auxiliando a criança na vivência escolar promovendo a sua inclusão, participação, aprendizagem e, consequentemente, potenciando o seu desenvolvimento global.
Bibliografia:
Barbosa, N. (2014). Autismo e respostas educativas no contexto escolar. (Dissertação de Mestrado), Universidade Portucalense, Portugal.
Despacho Normativo n.º 10-A/2018, de 19 de junho. Diário da República n.º 116/2018, 1º Suplemento, Série II de 2018-06-19, páginas 4 – 6. Disponível em www.dre.pt.
Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho. Diário da República n.º 129/2018, Série I de 2018-07-06, páginas 2918 – 2928. Disponível em www.dre.pt.
Oliveira, Eduarda Sampaio. Autismo na escola: pontos e contrapontos na escola inclusiva. Disponível em: <https://monografias.brasilescola.uol.
Rogers, S. J. e Dawson, G (2014). Intervenção precoce em crianças com autismo: modelo Denver para a promoção da linguagem, da aprendizagem e da socialização. Lisboa: Lidel – Edições Técnicas, Ltda.