Autora: Ana Rita Fernandes (Psicóloga)
É comum, e quase diariamente, ouvir a expressão “não tenho tempo” “estou sem tempo”. Esta falta de tempo parece estar a passar para as gerações mais novas, que absorvidas por esta interpretação da realidade, já começam a desculpar-se pela falta do mesmo. Por isso, começa a ser pouco frequente encontrar uma criança, um adolescente ou um adulto com tempo.
Quero acreditar que a vida de alguns de nós se pauta por uma organização metódica e disciplinada para termos o tal tempo para quase tudo… Esta (re)organização permanente não me parece ser a primeira opção dos adultos que, consciente ou inconscientemente, contagiam o pensamento das nossas crianças e instalam a desculpa do “não tenho tempo”. Se olharmos para a origem desta desculpa automática que parece sair-nos da boca sem pensar, talvez nos identifiquemos com a premissa de que a causa tem origem no amor ou, talvez, na ausência dele. Esta ausência pode ser realmente perigosa, podendo levar-nos para o desinvestimento, a indisponibilidade, assim como, a falta de vontade de fazer algo para e por alguém.
Perante isto, é urgente ensinar às nossas crianças que têm que colocar pitadas de amor em tudo que fazem e concretizam…
Ainda que não consigam, não podemos ensinar-lhes a resposta mais rápida e automática: a indiferença. Sim, porque indiferença não combina com felicidade.
Partindo desta análise (que a indiferença não combina com a felicidade), levanta-se um outro pensamento que nos remete para a necessidade de educar as nossas crianças junto de e para o amor. Desta forma, e uma vez que a indiferença faz com que nada nos inspire e tudo nos afaste do amor, talvez seja necessário alargar os nossos olhares e explorar as nossas emoções (o que é que estou a sentir? eu sinto? como me sinto?), de modo que os mais pequenos avaliem e sintam que temos que viver com menos indiferença e mais amor e, se assim for, será com certeza uma vida com mais motivação e mais tempo, o tal tempo que nunca temos.
E agora perguntam-me: como se cumpre esta fórmula? Simples. Ensinando as crianças a pensar e a conviver, a falar e a relacionar mas, acima de tudo, a interpretar emoções (a saber escutá-las) e a encontrar soluções, ainda que estas sejam tão simples como aprender a viver com o problema.

Psicóloga da Infância e da Adolescência