Osteopatia Pediátrica na Perturbação do Espetro do Autismo

Osteopatia Pediátrica na Perturbação do Espetro do Autismo

Autora: Ana Cláudia Figueiras (Fisioterapeuta e Osteopata)

A Osteopatia Pediátrica é uma área de atuação da Osteopatia em crescimento, sendo cada vez mais reconhecida como uma intervenção benéfica. Desenvolve-se numa abordagem de “medicina holística”, visando restabelecer a função das estruturas e sistemas corporais, através da intervenção manual sobre os tecidos (crânio, articulações, músculos, fáscias, vísceras, tecido nervoso, vascular e linfático) de forma suave.

Ao longo da minha experiência profissional como Fisioterapeuta Pediátrica, envolvendo casos de alteração neurológica, síndromes e perturbação do espetro do autismo, senti necessidade de diferenciar a minha atuação da intervenção convencional. Na Osteopatia encontrei ferramentas que me possibilitaram potencializar a funcionalidade motora das crianças e minimizar a agitação psicomotora inerente a muitas destas problemáticas.

A compreensão da origem de todas estas alterações, leva-nos ao momento da gestação. Durante esse processo, enquanto o bebé se desenvolve e cresce, o espaço disponível no útero vai diminuindo gradualmente. O bebé adapta-se e ganha uma memória postural. No momento do parto, o bebé é submetido a muita tensão física. É pressionado contra as paredes do canal vaginal, sendo obrigado a reposicionar-se e a rodar sobre o seu próprio eixo, enquanto é comprimido entre os ossos pélvicos para que depois ocorra a fase de expulsão. Se necessário, recorre-se ao uso de fórceps ou ventosas e forças externas são exercidas sobre o corpo do bebé. Todos estes acontecimentos, podem provocar esforços e tensões que afetam a mobilidade e o correto funcionamento das estruturas anatómicas do recém-nascido. A principal preocupação é com a estrutura craniana, que pode sofrer deformação estrutural, durante as contrações uterinas, e consequentes patologias de origens variadas.

A procura na Osteopatia para casos de Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) tem sido crescente, explicitando-se de seguida situações em que esta especialidade pode ser relevante. Alguns estudos post-mortem do tecido cerebral de pessoas com PEA, sugerem evidências de inflamação neural, ativação neuro-glial, desorganização neuronal no neocórtex, hiperativação de micróglias e genes que regulam inflamação, ativação autoimune, inflamação sistémica e défices de drenagem linfática meníngea devido à infeção ou inflamação crónica. A limitação da circulação do líquido cefalorraquidiano (LCR) e a alteração do movimento das membranas intracranianas, podendo levar à inflamação do Sistema Nervoso Central (SNC) através das meninges e originar uma disfunção neurocomportamental. É nesse momento que poderão surgir alguns sintomas, entre eles, a agitação psicomotora, défice cognitiva, dificuldades de comunicação, hiperresponsividade sensorial, dificuldade nas competências sociais e instabilidade emocional.  Através de técnicas de osteopatia, como ritmo sacrocraniano, há a possibilidade de diminuir a inflamação do encéfalo, das meninges e da medula espinal.

Estudos recentes foram realizados sobre uma possível ligação entre as alterações comportamentais na PEA e os sintomas gastrointestinais, afirmando um possível eixo cérebro-intestino, no qual o agravamento de alterações comportamentais podem estar associada a reações inflamatórias intestinais determinadas por sinais imunológicos. Os resultados têm evidenciado que a Osteopatia pode ter um impacto significativo sobre qualidade de vida e bem-estar das crianças com PEA que apresentam sintomas gastrointestinais, havendo pesquisas que retratam resultados positivos e promissores, após tratamento osteopático visceral.

Assim e como descreveu Upledger na década de 1970, a Osteopatia pode ser uma alternativa ou um complemento à intervenção padronizada da PEA.

Por fim, importa ressaltar que a Osteopatia é uma intervenção complementar e não substitui as intervenções convencionais, como Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Terapia da Fala e/ou Psicologia. Porém, esta intervenção holística tem sido fundamental para uma melhor abordagem em pediatria, trazendo respostas positivas inesperadas tanto a nível motor como emocional.

 

 

      Ana Cláudia Figueiras      Fisioterapeuta e Osteopata