Autora: Sara Eirinha (Fisioterapeuta)
Paralisia cerebral (PC), nome, doença, incapacidade, diagnóstico, etc., cada um pode chamá-la de diferentes formas e vê-la por diferentes prismas. A minha visão técnica, terapêutica e humana leva-me a considerar incorreto afirmar que uma criança nunca será capaz de alcançar determinado objetivo, ou que o irá alcançar.
Na minha prática clínica, tenho sempre o propósito de melhorar a qualidade vida da criança e aproveitar aquilo que de melhor o sistema nervoso tem para nos oferecer, a NEUROPLASTICIDADE (capacidade que o sistema nervoso tem de mudar, moldar e adaptar-se a nível estrutural e funcional, ao longo do desenvolvimento neuronal e quando sujeito a novas experiências).
O termo PC é usado para definir qualquer alteração não progressiva do cérebro em desenvolvimento, caracterizando-se por alteração no controlo do movimento e da postura, podendo ter muitas vezes outras alterações associadas. O cérebro comanda as funções do corpo, com áreas específicas responsável por determinadas funções, como área de —– responsável pelos movimentos dos braços e das pernas e área—-responsável pela linguagem. Uma criança com PC pode apresentar alterações que variam desde um leve comprometimento ao nível da coordenação dos movimentos a uma marcha peculiar, até à incapacidade para segurar um objeto, falar ou deglutir.
O desenvolvimento do cérebro tem início logo após a conceção e continua após o nascimento. Quando existe um fator externo que pode desencadear uma agressão do tecido cerebral antes, durante ou após o parto, as áreas mais atingidas poderão ficar com a sua função comprometida e, dependendo da gravidade da agressão, certas alterações poderão ser permanentes, caracterizando uma lesão não progressiva.
As causas mais comuns que podem levar a lesões são as infeções do sistema nervoso (como por exemplo a meningite), hipoxia (falta de oxigénio) e os traumatismos cranianos. Em muitas crianças a lesão ocorre nos primeiros meses de gestação e a causa é desconhecida.
Dados as potenciais causas da PC é fundamental um acompanhamento pré-natal regular e uma boa assistência ao recém-nascido na sala de parto, minimizando a possibilidade de lesões cerebrais permanentes. Mesmo assim, muitas das crianças, que superam situações críticas com a ajuda de recursos sofisticados das terapias intensivas neonatais modernas, como prematuros, sobrevivem podendo permanecer com sequelas neurológicas. Apesar da significativa evolução da medicina, métodos, técnicas, materiais, intervenção e terapêutica no acompanhamento da gestante e do recém-nascido no momento do nascimento, não potenciou uma redução significativa da prevalência da PC, mesmo nos países desenvolvidos.
De forma a aproveitar a neuroplasticidade, considero essencial a intervenção precoce. Na minha opinião, ainda se espera muito para iniciar a intervenção, há sempre um “vamos aguardar mais 3 meses” que irá de certa forma influenciar todo o processo de intervenção.
Uma intervenção de sucesso, deverá incorporar profissionais de saúde, familiares e escola, trabalhando em articulação para atingir os objetivos traçados. O desenvolvimento da criança com PC é lento e muitas vezes tem retrocessos, o que leva à frustração de todos os que acompanham a criança, exige também um constante apoio aos familiares, de forma a potenciar os cuidados adequados, e de lidar emocionalmente com as dificuldades que vão surgindo. O tratamento da PC não tem em vista a cura desta, mas sim minimizar os efeitos e consequências, promovendo o maior grau de independência possível.
É certo que quanto mais precocemente se age no sentido de proteger ou estimular o SNC, melhor será a sua resposta.
Núcleo de Atendimento à Criança com Paralisia Cerebral
Albuquerque, 2006
Lima & Fonseca, 2004
Leite & Prado, 2004
Rotta, 2002
Associação Brasileira de Paralisia Cerebral, 2001
Marques e tal, 2008
Sari & Marcon, 2008
