Autora: Inês Rocha (Terapeuta Ocupacional)
A evolução da tecnologia e o fácil acesso a dispositivos e plataformas eletrónicas tem levado a uma desvalorização da escrita à mão. A inclusão da tecnologia, cada vez mais cedo, na vida das crianças gera impactos positivos, nomeadamente um acesso muito alargado à informação e a promoção do conhecimento, mas também negativos. Numa visão de terapia ocupacional, identifica-se a diminuição das experiências sensório-motoras, do planeamento motor, da interação social, da capacidade de resolução de problemas e, posteriormente, ao nível da motricidade fina. Também afeta negativamente tarefas como desenhar e escrever que exigem maior ativação de diversas áreas do cérebro. De facto, essas tarefas, mais complexas, promovem o desenvolvimento cerebral e cognitivo da criança de um modo mais efetivo do que o simples carregar de uma tecla ou num ecrã.
Para conseguir escrever é necessário que a criança apresente desenvolvido o equilíbrio, o controlo postural, a coordenação visuomotora, a motricidade fina, a perceção visual e a atenção. Além disso, espera-se que a criança pegue no lápis em pinça, com o dedo indicador e o polegar, apoiando-o no dedo médio. Mas, mesmo antes de chegar à fase ideal da preensão do lápis, deve passar por uma série de experiências sensoriais e motoras que vão possibilitar o desenvolvimento de movimentos funcionais com os membros superiores e a aquisição de força suficiente nos músculos dos dedos. Essas experiências começam na gestação, quando o feto leva a mão à boca para chuchar e continuam durante todo o seu desenvolvimento extra-uterino. As brincadeiras de montar/desmontar, encaixar, empilhar, empurrar, puxar, carregar, rasgar, enrolar, atividades de vida diária (alimentação – usar os talheres, segurar o biberão ou copo; vestir e despir, manusear fechos e botões) são alguns exemplos de atividades que auxiliam no desenvolvimento funcional da preensão.
As fases do desenvolvimento da preensão do lápis ocorrem de forma natural, podendo haver exceções como salto de fases da preensão, não havendo prejuízo no desenvolvimento da preensão. É muito importante o papel dos pais e/ou professores em proporcionar à criança atividades que permitam ter um bom desenvolvimento motor fino.
Fases da Preensão
Pega palmar: 1 -1,5 anos Pega em pronação digital: 2- 3 anos Pega em pinça quadrípole: 3,5 – 4 anos Pega em pinça trípode: 4,5 – 6/7 anos
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Na idade dos 5/6anos, preparação da entrada para o 1º ciclo, deve ser avaliada a maturidade da preensão do lápis da criança. Importa potenciar uma preensão ideal, pois uma pega disfuncional poderá interferir com o desempenho a nível da escrita, a nível da visibilidade e velocidade de escrita. Para além disso, ao longo do seu desenvolvimento, algumas crianças podem apresentar outras dificuldades em realizar a pega do lápis corretamente ou a exercer a força necessária para conseguirem escrever/desenhar.
Nestes casos, é possível utilizar um adaptador de lápis, uma pequena peça de espuma ou silicone moldado para colocar no lápis, fornecendo o suporte ergonómico da mão e, assim, ajudar a criança a realizar uma preensão funcional do lápis. Os adaptadores de lápis são confortáveis, suaves e permitem o movimento dinâmico dos dedos na escrita.
Existem vários modelos no mercado, mas é necessário a realização de uma avaliação por parte de um Terapeuta Ocupacional para ajudar na sua escolha, uma vez que nem todo o tipo de adaptador e tamanho serve para todas as crianças.
A escolha de um adaptador de lápis depende de vários de fatores como:
– a forma como os dedos são posicionados sobre o lápis
– os movimentos dos dedos durante a escrita
– a força exercida sobre o lápis
– o tamanho do mão da criança
– idade da criança
Não existe problema, comprometimento efetivo e/ou algo patológico se uma criança não apresentar uma pega funcional/pega ideal do lápis mas a adoção da mesma poderá favorecer o desempenho da criança e prevenir dores e cansaço durante as atividades de escrita, bem como a adoção de posturas incorretas para compensar a fraca visibilidade, fraca mobilidade dos movimentos de punho e dedos e força excessiva. Assim, potenciar atividades sensório-motoras para desenvolver a motricidade fina desde tenra idade pode aumentar e facilitar o desempenho das crianças e prevenir dificuldades e barreiras nas atividades de escrita.
